João Silva Marques – Rei e Senhor da Natação Ibérica nos Anos 30/40

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Na minha estante de memórias, de vez em quando revejo e encontro casos que os jovens e os amantes da modalidade gostam de saber como era a natação noutro tempos e como certas figuras fizeram história na natação pura está neste caso o Mário Silva Marques.

Depois da anterior história do Mário Silva Marques, irmão mais velho dos três, que foi o primeiro nadador olímpico português na história da natação portuguesa.

Calha agora altura de vos contar a história de João Silva Marques, que tinha a alcunha na natação “TALE”.

Nasceu na Cova da Piedade, em 1 de março de 1906. Foi um caso invulgar de categoria desportiva e de popularidade.

Durante cerca de 25 anos atraiu todas as atenções desportivas pelas suas proezas na natação na modalidade, na altura era rei e senhor.

O irmão, Mário, ensinou-o a nadar aos 6 anos de idade, na praia de Romeira, na Cova da Piedade.

Desde muito novo começou a dar nas vistas nas provas populares entre amigos que se organizavam na praia do Alfeite e Caramujo, onde limpava tudo, fosse lá a distância que fosse ou a técnica.

Aos 19 anos, seu irmão, convidou-o a ingressar no Belenenses. Como não havia piscinas em Lisboa, treinava na praia do Porto Brandão, na margem sul do rio Tejo. Até que um dia o seu irmão, na altura seu treinador, lhe disse, “João, vamos os dois nadar os 200 metros bruços a sério, a ver quem ganha! Aceito o repto, dizendo-lhe “mas olha que vou dar tudo para ganhar!

Nadaram com todo o vigor e o João chegou primeiro! O Mário, grande desportista, dei-lhe um abraço e lhe disse: “Vais ser o meu continuador, na família!”

Assim nasceu uma nova estrela da natação portuguesa, com 20 anos, entrou na natação competitiva oficial.

No Belenenses, era treinado pela D. Margarida Pala e seu marido, então treinadores do Algés. Na primeira época ganhou e conquistou os seus primeiros títulos, com direito a recordes nacionais, 100 e 200 metros bruços, com as seguintes marcas, 1.21.15 e 3.16.00. Estes feitos aconteceram na época do ano 1926 e até 1928 foi só conquistar triunfos entre as provas olímpicas e provas no rio Tejo, Travessia do Tejo entre a Trafaria e Algés, Pequena Travessia de Lisboa, entre Terreiro do Paço e Pedrouços. Nos anos 1930-32, volta a repetir todos os triunfos, com destaque para nova marca no 200 bruços, 3.10.15, com este resultado foi selecionado para Jogos Olímpicos de Los Angeles. Na primeira prova de seleção realiza 4.15, segue menos que o tempo pedido pelo Comité Olímpico Português. Referir que esta tentativa foi realizada depois de um dia extremamente de trabalho na fábrica da Companhia da União Fabrila, onde se exerce a profissão de fundidor, que era extremamente nociva para a modalidade que praticava, por causa dos pulmões.

Não foi selecionado para os jogos, que o deixou deveras muito triste. Mas continuava sempre com entusiasmo aos treinos, até que melhorou o seu recorde ibérico dos 200 bruços.

silva marques

Reparem na evolução das suas marcas nos 200 metros bruços, desde 1931 a 1937: 3.16.15, – 3.10.15 – 3.07.15 -3.03.35 – 3.00.00 – 2.59.15. Ainda no ano de 1936, ano dos jogos olímpicos de Berlim. Escuta a excelente marca 2.58.10. Marca que equivale também o “Record ENCONTRAVA-SE NA SUA PLANITUDE DOS SEUS RECURSOS, APESAR DOS SEUS 30 ANOS DE IDADE TINHA FORÇA DESCOMUNAL, AS SUAS MÃOS ENORMES PUXAVAM A ÁGUA COM RITMO IMPRESSIONANTE E AS SUAS PERNAS COMPRIDAS E OS SEUS ERAM HÉLICES PODEROSAS AO LEVAR AQUELE FÍSICO, SEGURANÇA, ENVERGADURA E OS SEUS 97 QUILOS A CAMINHO DAS PAREDES DAS PISCINAS MAIS RÁPIDAS DE QUALQUER outro nadador!

Entretanto, o seu atual treinador, o húngaro Torok, falou assim do seu nadador, falou sobre o seu estilo perfeito! E nisso mais nada há a fazer. Já saiu dos três minutos; penso que assim, que Silva Marques, em breve atingiria os 2.54.00 fixados pelo comité para estar presente nos Jogos Olímpicos e ultrapassando-o até, julgou-o com recursos para alcançar, 2.50, tempo já de boa categoria internacional!

Entretanto, não fez o mínimo, e o Comité Olímpico que podia deslocar com o seu tempo ” Record” não o fez por falta de verba.

Calcula-se o estado de espírito do formidável campeão, merecedor sem dúvida de estar presente na maior competição desportiva do Mundo, a grande festa de confraternização da juventude de todo o Globo.

No entanto, em 1938, tem provas de seleção para os campeonatos da Europa. E fixado o mínimo 2.56 que não consegue realizar e mais uma vez fica na Cova da Piedade…

Decididamente o nadador Silva Marques não era feliz quando se lhe apresentavam perspetivas de tomar parte nas grandes competições…

No entanto, o seu palmarés do maior especialista de bruços da Península Ibérica até 21 de agosto de 1940. Repare-se: 14 Campeonatos Nacionais, outros tantos regionais, 2 Travessias do Tejo, entre Trafaria a Algés, 2 Pequenas Travessias de Lisboa, entre Terreiro Paco-Pedrouços, “Taça Patrão Lopes”, Meia Milha na Figueira da Foz, dois títulos nacionais 100 costas, dois títulos de nadador completo, recordista nacional 100 bruços e ibérico nos 200 bruços.

Até que em 1942 foi distinguido com medalha de ouro pela Federação Portuguesa de Natação. Até que, finalmente, após 18 anos de vitórias e batido nos campeonatos de Lisboa, nos 200 bruços por Júlio Mendes Silva, nadador do Estoril, que escutou o tempo 3.09.80. Após este êxito do nadador treinado por Azinhais dos Santos, Silva Marques abraça e felicita efusivamente o seu adversário e novo campeão.

Foi ainda selecionado em 1947 para o Portugal-Espanha, fica em quarto com um tempo 3.05.03, na altura era um tempo espantoso.

Em 1948 despede-se da atividade desportiva num festival realizado na piscina do Algés. Na homenagem que lhe foi prestada sentiu perfeitamente como fora apreciada a sua classe e a sua compostura cívica de homem do Desporto. Valerá a pena todos os sacrifícios de uma mocidade ao serviço da Natação.

Recordemos que o seu recorde nacional de 200 metros bruços viria a resistir de 1937 até 26-7-1959, data que José Manuel da Fonseca o igualou, batendo depois, em 25-8-59.

Faleceu com 64 anos em janeiro de 1970. Estive presente no seu funeral, que saiu da capela do Bairro da Piedade, para o cemitério do Monte da Caparica, em representação da natação do Belenenses na companhia do então Presidente do clube Acácio Rosa. Um dia que ficou gravado na minha memória para sempre. Quem diria que eu seria feliz na piscina que ele um dia ajudou a construir na Cova da Piedade…

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