Atleta com doença respiratória – uma realidade pouco falada!

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As doenças respiratórias constituem um grave problema de saúde pública, quer pela sua prevalência quer pelas consequências clínicas, sociais e económicas.

Apesar de não ser uma realidade muito falada, a percentagem de atletas com alguma destas doenças é elevada.

Não obstante do componente desportivo e do foco no rendimento, é importante salientar que apesar de uma doença respiratória poder ser “prejudicial” para um atleta com determinados objetivos desportivos, a prática de atividade/exercício físico é benéfica e fundamental para o tratamento dos doentes respiratórios. Assim, a relação exercício físico/doença respiratória deve ser sempre incentivada.

Conhecer a condição de saúde dos atletas é sempre fundamental (independentemente da doença que estamos a falar).

No caso das doenças respiratórias o seu diagnóstico, estadiamento e tratamento tem repercussões diretas no rendimento desportivo. Assim, torna-se importante que atletas, treinadores e equipas clínicas conheçam as especificidades deste grupo de doentes.

A fonte de energia primordial para o ser humano é aeróbia, ou seja, para que o corpo humano produza a energia precisa da presença de oxigénio, que obtém através do processo de respiração.

Apesar do corpo humano estar munido de capacidade de criar energia de forma anaeróbia (sem a presença de oxigénio), estes processos acarretam consequências metabólicas que tornam impossível a sobrevivência em caso de persistência do tempo.

Resumindo: precisamos de respirar para viver, quando respiramos mal, vivemos pior e quando não respiramos, morremos!

A atividade física constitui um desafio à capacidade do organismo de obter energia de forma mais eficaz e de se autorregular.

A prática desportiva abrange todas as idades. Apesar das especificidades de cada uma delas, as doenças respiratórias obstrutivas (asma e DPOC) são as mais comuns. Em idades mais jovens a doença mais frequente é a asma.

Ainda assim, na avaliação destes atletas importa não descurar as infeções respiratórias repetidas (que podem provocar um deficiente crescimento pulmonar), as deformidades da caixa torácica ou a exposição a poluentes ambientais.

Destes últimos, importa destacar o tabaco. Inúmeros atletas são fumadores ou expostos a fumo passivo e isso tem repercussão na sua função pulmonar.

Muitos atletas têm sintomas respiratórios durante e após os treinos/competição. Existe uma enorme variedade de condições que podem predispor o atleta a queixas respiratórias, mas a asma não controlada é de longe a mais comum. O exercício físico é um potencial desencadeante de uma crise asmática, quando a patologia não esta devidamente controlada.

Assim, perante queixas respiratórias (que por vezes podem ser muito ténues) deve ser prontamente incentivada a reavaliação médica e a revisão terapêutica. O pilar crucial do tratamento da asma é a terapêutica inalatória.

No entanto, o incumprimento deste tipo de tratamento é muito frequente. Os asmáticos não se apercebem dos primeiros sinais de descompensação da doença e por isso facilitam no cumprimento rigoroso dos inaladores, o que tem consequências imediatas no controlo da doença e tardias na deteorização da função pulmonar.

Para além disso há ainda muitos erros de utilização associados aos demais dispositivos.

As patologias rinossinusais (rinite, sinusite, etc.) constituem também um grupo importante de doenças que atingem muitos atletas. Em repouso, a forma preferencial de respiração é a nasal.

Durante o exercício físico a necessidade de aumento do volume inspiratório conduz a uma passagem de respiração nasal para bucal. No entanto, a eficácia da respiração nasal tem muito impacto na recuperação pós exercício.

Para além disso, patologias que afetem o nariz/nasofaringe condicional diminuição da qualidade de vida, da qualidade do sono e do descanso, o que tem consequências na performance desportiva.

Por fim, mas não menos importante, as infeções respiratórias são um dos principais motivos de interrupção da prática desportiva. Para além de afetarem a preparação física, podem levar a lesões ou mesmo a contágio de outros atletas pelo que devem ser prontamente diagnosticadas e tratadas. A retoma da atividade física após infeção depende da gravidade da mesma e da resposta do organismo. A prevenção destas infeções deve ser o foco de todos os agentes desportivos e baseia-se em medidas simples como lavagem das mãos, etiqueta respiratória, alimentação e hidratação adequadas, entre outras.

Ana Carla Guimarães

Mestrado Integrado em Medicina na Universidade do Minho

Pós graduação em medicina desportiva na FMUP

Interna Medicina Geral e Familiar

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